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23 de outubro de 2013

meu maior inimigo

Parece coisa de filme, mas é bem assim a minha vida: um clichê atrás do outro.
Seria um daqueles romances bestas onde um garoto ama uma garota e coisas assim.
Mas eu estaria longe de ser personagem principal.
Nunca tive vocação pra isso.
Aliás, eu nunca gostei dos mocinhos.
Sempre tive uma queda por vilões e personagens secundários.
Eu seria um dos dois.
Daqueles bem marcantes.
Seja um vilão que gera raiva de milhares
ou o melhor amigo da mocinha que é, na verdade, apaixonado por ela secretamente.
Tão típico de mim.
Estar tão feliz com o que tenho, mas acabar me fazendo sofrer.
De uma hora pra outra.
É, com certeza, um personagem secundário.
Aquele com problemas internos e conflitos que não consegue resolver
e que acha que ninguém jamais vai conseguir ajudá-lo.
Aquele que está rindo numa hora e chorando em outra.
Que, em um surto qualquer, acaba cometendo alguma burrada...
Com toda certeza, esse sou eu.
Tão atrapalhado na minha própria vida que passa a ser dificil falar dela.
Tão acostumado a confortar que já esqueceu como é ser confortado.
Tão habituado à tristeza que se deixa levar de volta pra ela por um mínimo motivo.
Esse sou eu.
Um mocinho não tão importante
e um vilão não tão competente.
Um mocinho clichê e piegas com um inimigo tão idiota quanto.
Afinal, quem seria meu maior inimigo senão eu mesmo?

19 de outubro de 2013

hoje é dia da carne

Ouço barulhos de zíper e velcro.
Nossas roupas estão no chão.
O que estamos fazendo?
Por que estamos fazendo?

Nossos corpos se aproximam, nossos lábios se tocam.
Quentes, como se pertencessem um ao outro.
Um encaixe perfeito ao mesmo tempo tão errado.
Sinto o gosto dos tantos outros que passaram.
Tenha sido um ano, um mês ou vinte minutos, consigo sentir cada um dos amargurados que cederam aos teus encantos.
Deslizo a mão por seu corpo e tudo o que consigo vislumbrar é o toque já repetido e recebido de diversas formas. O meu não faz diferença.

Mas o corpo deseja.
O meu.
O seu.
Deseja unir-se, serem mais do que meros desconhecidos.

E então, selvagem e arrebatadoramente, você se aproxima.
E tudo parece acontecer tão normalmente que não há consciência ou mente que segure o corpo.
Hoje quem toma posse é ele.
Ele quer ser tocado enquanto toca.
Ele quer sentir, enquanto sente.
Ele quer beijar e ser beijado.
Ele quer.

Talvez tenhamos cometido o maior erro das nossas vidas.
Não deveríamos deixar o corpo ser tão dominador.
Eu não posso deixar isso acontecer.
Porque, depois que a consciência volta, sou eu quem carrega a culpa.
Você caminha para mais tantos amargurados de beijos ácidos e doces e salgados e vazios.
Talvez tenhamos entrado num terreno perigoso.
Mas, por enquanto, com o corpo no comando me fazendo desejar teu corpo, tua mente e a tua presença, tudo o que consigo imaginar é quão bom esse perigo seja.
E amanhã, quando nos separarmos, tudo isso desaparece.
A mente volta a reinar, a consciência pesa, o álcool fala mais alto e a pergunta de sempre voltará.
O que estamos fazendo?
Por que estamos fazendo?
Mas, quando nos encontrarmos de novo, os corpos falarão mais alto e o desejo aumentará à cada olhar, toque, sentido e prazer.
E de repente, nada vai parecer errado.
Tudo será possível.
Tudo será do corpo... mais ainda, será da carne.
Quente, úmido, sujo e perigoso.

Como sempre.

15 de outubro de 2013

mais um ano

Mais um ano se passou e dessa vez eu nem percebi. Talvez seja por eu já ter me acostumado à ideia de não ter mais você comigo, de não poder te abraçar ou te ligar tarde da noite pra contar aquele pesadelo tosco de sempre. Ou então talvez você já seja tão parte de mim que eu não consiga perceber que já faz tanto tempo. Mas hoje eu lembrei, resolvi olhar o calendário e percebi que deixei passar. Hoje eu ouvi a sua música e todos os pensamentos me levaram até você, me fizeram sentir você, me fizeram querer que tudo isso fosse apenas um sonho, que você estivesse comigo. Hoje eu desenterrei suas cartas, deixei se perfume tomar conta do meu quarto, do meu corpo, da minha mente. Me permiti ser seu outra vez. Só seu e de mais ninguém, como fomos por um longo tempo. 

Mas, se você quer saber, hoje eu não chorei. Não relutei, não me fechei ou sequer me senti mal por não ter percebido. Hoje eu apenas revivi memórias boas, senti falta de viver aquilo tudo de novo, quis ter mais lembranças suas (físicas e mentais) e desejei um dia a mais. Um dia pra te abraçar, te beijar, te aninhar junto ao meu corpo, te ver dormir quem sabe, com a cabeça no meu colo enquanto eu mexo no seu cabelo e cantamos uma música qualquer. Foi tão bom. Tão bom que eu cheguei a enxergar isso acontecendo.


E de repente me senti louco. E as janelas tremeram quando a música acabou. Era você. Sempre é você. Abri e deixei o vento entrar. Ele levou embora o seu perfume; bagunçou as suas cartas e fez cócegas em mim. Sem dúvida, era você. 


Guardei tudo. Recolhi as memórias, o seu cheiro, os seus beijos, o seu toque. Tudo foi guardado. Na mente, no peito ou na gaveta. E então eu fiquei quieto, esperando. Mas o que? Talvez uma confirmação de uma desculpa. Mesmo não estando errado, ainda achava que tinha errado. Encolhi. Você sabe que eu sempre fui um tanto medroso para o mundo... e eu não queria saber do mundo. Não hoje.


Então eu dormi. Me permiti ficar jogado, vendo filmes ou escrevendo esses tantos parágrafos que por vezes foram rabiscados. me permiti tentar encontrar as palavras certas para representar todos os anos. Os que estivemos juntos e os que tivemos separados. Até agora, não sei se achei nenhuma que sirva, por isso eu paro por aqui. Na esperança de que talvez tenha sido você... que tenha me reconhecido e vindo me abraçar, me fazer cócegas e bagunçar meu quarto. E se não foi, bom, prefiro não pensar nessa possibilidade...

6 de outubro de 2013

promessas pra quem?

Hoje eu me convenci de que não escreveria.
Apesar de ter pensado e refletido diversas coisas, convenci-me de que nada merecia o conforto do papel.
E como eu nunca fui um cara que cumpre promessas feitas a si mesmo, cá estou.
Deslizo o lápis pelo papel ao som de uma música qualquer, com um piano forte e vozes grossas.
Tudo muito alto, robusto e grosso.
A letra, a voz, o papel, a música.
E ainda assim, não sei sobre o que escrever.
Talvez seja apenas a necessidade de expressar... o que sinto, o que penso, o que quero.
Mas tudo isso é muito tenso e acho melhor não falar sobre.
Como poderia falar sobre o que sinto sem expor pessoas?
Seria certo dizer que passei o dia pensando em você, enquanto provavelmente você pensa em outro?
Acho que não, então por isso me recuso a afirmar que pensei em você.
Não, eu não pensei.
No máximo eu lembrei com certo afeto.
Seria certo dizer que pensei no futuro e no passado sem olhar pro presente? Sem me preocupar com as pessoas que me querem (bem ou mal) atualmente...
Acho que não, então por isso afirmo apenas que pensei.
Nossa, e como pensei.
A música ficou mais alta; minha dor de cabeça estourou.
Um dia de tanta reflexão que me causa ânsias.
Ânsia pelo que eu fui, sou e serei.
Ânsia pelo que fiz, faço e farei.
Ânsia por estar descumprindo uma promessa feita no começo do dia.
Rabisco no alto da folha: EU NÃO ESCREVEREI
e, fazendo isso, desatino a escrever.
Esse texto. Outro texto. Outro eu. Um você.
Seria certo dizer que eu quero? 
Seria ousado dizer que não preciso do profundo, que me contento com o superficial?
Acho que não, ninguém aceita isso.
A música muda.
Uma gaita e um violão entram em cena, a voz é mais calma.
Decido ler. 
Quero ler.
Preciso ler.
Não consigo ler.
Não sei ler.
Desaprendi.
Perdi a vontade.
Vou escrever; mas eu lembro que prometi não escrever, então escrevo mais um pouco.
O quarto está escuro, tomado pela lua que não brilha.
Desejo outra vez.
Você. Nós. Eu. 
Nada. Tudo. Não sei.
Tá escuro, tá confuso.
Aliás a minha mente é meio assim.
Escura, confusa.
Esfrego os olhos.
Decido dormir.
Não consigo dormir.
Não consigo deixar de pensar.
Hoje a noite será em claro.
Decido escrever mais... foda-se a promessa.
O papel já tá todo rabiscado.
Erros completam uma folha que poderia ser a minha vida.
Torta, apagada e com algumas linhas faltando.
Não quero mais.
Quero ouvir a música.
E só então percebo que ela acabou. Droga.
Agora o lápis para na folha.
Ansioso por mais, desejando ser usado.
E eu paro.
Não quero mais escrever.
Não gosto mais de escrever.
Não quero mais lembrar de você.
Eu me calo.
Engulo o silêncio, o escuro, o papel.
Acabou.
Só a minha cabeça que continua a bater.