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19 de outubro de 2013

hoje é dia da carne

Ouço barulhos de zíper e velcro.
Nossas roupas estão no chão.
O que estamos fazendo?
Por que estamos fazendo?

Nossos corpos se aproximam, nossos lábios se tocam.
Quentes, como se pertencessem um ao outro.
Um encaixe perfeito ao mesmo tempo tão errado.
Sinto o gosto dos tantos outros que passaram.
Tenha sido um ano, um mês ou vinte minutos, consigo sentir cada um dos amargurados que cederam aos teus encantos.
Deslizo a mão por seu corpo e tudo o que consigo vislumbrar é o toque já repetido e recebido de diversas formas. O meu não faz diferença.

Mas o corpo deseja.
O meu.
O seu.
Deseja unir-se, serem mais do que meros desconhecidos.

E então, selvagem e arrebatadoramente, você se aproxima.
E tudo parece acontecer tão normalmente que não há consciência ou mente que segure o corpo.
Hoje quem toma posse é ele.
Ele quer ser tocado enquanto toca.
Ele quer sentir, enquanto sente.
Ele quer beijar e ser beijado.
Ele quer.

Talvez tenhamos cometido o maior erro das nossas vidas.
Não deveríamos deixar o corpo ser tão dominador.
Eu não posso deixar isso acontecer.
Porque, depois que a consciência volta, sou eu quem carrega a culpa.
Você caminha para mais tantos amargurados de beijos ácidos e doces e salgados e vazios.
Talvez tenhamos entrado num terreno perigoso.
Mas, por enquanto, com o corpo no comando me fazendo desejar teu corpo, tua mente e a tua presença, tudo o que consigo imaginar é quão bom esse perigo seja.
E amanhã, quando nos separarmos, tudo isso desaparece.
A mente volta a reinar, a consciência pesa, o álcool fala mais alto e a pergunta de sempre voltará.
O que estamos fazendo?
Por que estamos fazendo?
Mas, quando nos encontrarmos de novo, os corpos falarão mais alto e o desejo aumentará à cada olhar, toque, sentido e prazer.
E de repente, nada vai parecer errado.
Tudo será possível.
Tudo será do corpo... mais ainda, será da carne.
Quente, úmido, sujo e perigoso.

Como sempre.

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