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28 de agosto de 2014

aposto

vamos apostar assim eu sinto saudades de você, 
e você de mim.
quem sabe um dia a gente se cobre o prêmio.
quem resistir por mais tempo, tem direito à cobrança.
isso vai nos remeter à nossa fase inicial,
quando a aposta foi perdida e, mesmo assim, tive que cobrá-la.
vamos apostar assim sua mão na minha causando sensações boas
e a minha apertando a sua meio escondido, como se procurasse refúgio
quem sabe um dia nossas mãos se encontrem.
quem resistir por mais tempo, tem direito ao abraço.
vamos apostar assim a gente se encontra escondido
e esconde de todos o resultado.
quem sabe um dia se torne chato quando todos souberem.
quem resistir por mais tempo, tem direito à escolher o lugar.
vamos apostar assim de noite eu te visito
e deixo uma parte de mim com você.
quem sabe um dia eu possa pegá-la de volta, fazendo com que eu fique mais completo
quem resistir por mais tempo, tem direito a escolher a cama.
vamos apostar assim nada de luz dessa vez,
apenas eu e você e o tato para nos guiar.
a língua para explorar
o corpo para sentir.
quem sabe um dia a gente sinta o mesmo ou mais do que sentimos
quem resistir por mais tempo, tem direito à escolher correr o perigo ou não.
vamos apostar assim você não esquece de mim,
e eu não te deixo sozinho.
porque um dia a distância vai deixar de existir de novo, mesmo que por pouco tempo.
e vamos resistir por muito tempo, até que tenhamos direito de acabar com nossa aposta.
posso perder essa aposta pra você.
desde que o resultado seja sempre o mesmo.
a gente.

1 de junho de 2014

queima

Na vida, muito se ouve, muito se engole e pouco se fala.
Até que um momento você não quer mais ouvir, não consegue engolir e fala.

E quando você fala, você se liberta.
Liberta dos teus demônios, tuas privações, tuas prisões e correntes e algemas e sabe lá mais o que estiver te afligindo de alguma forma.
E quando você fala, você não consegue parar.
Desenfreado, você não faz sentido.
Mesmo sem razão, a racionalidade fica ao lado da outra pessoa.

E você cala.
Cala e ouve.
E se decepciona com o que ouve.
Você fala. 
E quando fala, se queima.
A visão muda. 
A sua. A dela. A disso.
Ameaças vagas que agora vão atormentar sua cabeça.
Palavras fracas que te perseguirão.
A lágrima e a lamúria baixa que vai lhe acompanhar.
Tudo queima.
Tudo marca.
A lágrima que escorre: marca.
A raiva por falar: marca.
A raiva por ser recriminado por falar: marca.

E você se cala.
E todos estranham o porque do silêncio.
E a sua vontade é de gritar.
De chorar.
De se desligar.
Mas você ignora. Diz que vai passar.

E talvez passe.
Um dia.
Talvez.

Passe.

26 de abril de 2014

me afaste-se

hoje eu só queria um beijo seu.
um beijo com um afago, uma promessa, uma calmaria.
vai tudo ficar bem, anjo.
e tudo ficaria melhor, mais fácil.
hoje eu só queria estar com você
sem todos os possíveis problemas, 
sem ter que ficar com medo de que outra pessoa interfira
interrompa, a gente.
hoje eu só queria que ontem não tivesse ocorrido.
que você entendesse que, querendo não me magoar, você caminhou para isso.
não magoado com você, mas por você.
será que isso faz sentido?
não prometo manter a cabeça no lugar caso outro lhe tome.
talvez eu seja imaturo como você disse,
mas pela razão correta e não por uma conversa.
hoje eu só quero um beijo seu.
mas hoje eu não sei se você sequer gostaria de me ver.
hoje eu só quero estar com você.
mas talvez tudo o que você queira é que eu me afaste.
e eu me afasto, se for o que você quer.
como eu te disse, estou acostumado à afastar as pessoas.

22 de fevereiro de 2014

burocracia social

desde quando tudo tem que ter um motivo?
quando a burocracia social passou a ser mais importante que a espontaneidade?
por que um "te amo" tem que vir com motivo, significado, relevância e peso?
por que um sorriso precisa ser explicado?
por que tudo deixou de ser tão eu pra ser tão deles?
quem disse que todo gesto tem motivação?
onde tá escrito que um elogio tem de significar algo além do que foi dito?
quando a pressão organizacional passou a tomar conta dos nossos gestos, pensamentos, sentimentos...?
acho que perdi esse momento exato.
um momento crucial que eu fui esquecido de ser avisado quando iria rolar...
prefiro a espontaneidade
a lágrima que rola pela simples vontade de desabafar
o sorriso que sai quando observa as covinhas no sorriso do outro
o pensamento perdido guiado por uma música
a vergonha de uma memória antiga
a leveza de um toque, um abraço, um afago.
sem importância maior do que a de importar.
se outros precisam de significado, eu só preciso que marque.
que importe.
que faça diferença.
ou que seja tão despreocupado que perca o sentido, as pernas, as bases e estremeça.
estremeça e caia.
em alucinação, em despreocupação, em manias.
nem tudo tem motivo
e eu já esqueci o motivo desse texto...
se é que chegou a existir um