" Depois
da morte de sua mãe, Bruna se viu perdida no mundo. Com apenas 9 anos e sem
nenhum parente de sangue para ampará-la, se viu desolada e totalmente sem chão.
A partir daquele dia ela seria obrigada a morar sozinha com Carlos, a obedecer
ele, a ser dependente do homem que lhe causava medo e nojo.
Mesmo
com tão pouca idade, Bruna sempre soube julgar as pessoas pelos seus atos. E
Carlos merecia tal julgamento. Chegava do trabalho totalmente bêbado, torrava o
dinheiro que muitas vezes era do aluguel em bebida, forçava sexo com a mãe de
Bruna – com ela por perto, quase sempre – e, o que mais fazia chorar de raiva,
Carlos espancava sua mãe. Sua querida e delicada mãe. A mão dele descia e
cortava o ar, batendo com força no rosto da mulher, virando-a e fazendo-a cair
sobre os joelhos.
Era
com ele que Bruna fora obrigada a morar. Um homem que ela nunca respeitou ou
sequer tentou obedecer durante os anos; um homem que lhe dava nojo; um homem
que em nada fazia jus à memória de sua mãe; um homem que não mereceu a vida que
teve... até agora.
Conforme
crescia, Bruna objetivou que sua vida seria fazer a vida de Carlos um inferno.
Sempre com a desculpa de estar frágil e passando por momentos difíceis e depois
amparada pela rebeldia comum da adolescência, a verdade era que Bruna estava
mais do que consciente de tudo o que fazia. Da vez em que batera e deixara o
carro dele explodir quando tinha 16 anos, da primeira festa com direito a
furtos e objetos quebrados aos 15 e também durante todos os três anos em que
passara roubando o dinheiro da carteira do padrasto, fazendo-o crer que tinha
gastado o dinheiro com bebida.
Mas
com uma coisa Bruna não contava...
Ela
tinha completado dezoito anos há menos de dois meses. Era uma noite comum, como
as outras. Ela tinha ficado deitada no sofá, de pernas pro ar, vendo televisão
durante o dia todo. A louça estava na pia desde sabe lá quando. O cheiro de
mofo vindo das quentinhas de papelão em cima da pia chegava à sala, mas não a
incomodavam mais. Depois de tomar um banho quente, Bruna se vestiu e foi
dormir.
Mais tarde naquele
mesmo dia, Carlos chegara bêbado em casa e ficara enraivecido ao encontrar a
casa no estado deplorável de arrumação. Dirigiu-se aos tropeços para o quarto
de Bruna, pronto para lhe passar um sermão. Parou de imediato na porta. A
verdade era que Carlos sempre observava sua enteada e percebera como ela havia
crescido. Por diversas noites se pegou imaginando seu corpo curvilíneo e
virgem, mas afastava tais pensamentos insanos. Mas Bruna nunca aprendera a
fechar a porta do quarto e, dessa vez, Carlos não estava em suas faculdades
mentais.
A
mão do homem deslizou pela coxa desnuda da menina, arrepiando-a os pelos da
perna e do braço. Ele deitou-se sobre a menina, que acordara com o peso
repentino em cima de si. Antes que pudesse gritar, no entanto, o homem a
silenciou pressionando a mão de encontro à sua boca.
Com
a outra mão ele descera a calcinha dela e começara a dedilhar seu sexo,
explorando um lugar que ninguém havia estado antes. Bruna lutava e se debatia, soltando
gritos abafados pela mão firme do padrasto. Carlos segurou suas mãos logo
depois de amarrar a fronha do travesseiro em volta da boca dela. Livrou-se da
calça e arriou a cueca. Cuspiu na cabeça de seu membro que latejava de tesão e
jogou seu corpo sobre a menina e empurrou-lhe o membro sexo à dentro. Para
Bruna aquilo era um pesadelo. Para Carlos, um sonho.
Bruna
gritara. Um grito sofrido, abafado e choroso. As lágrimas escorriam pela sua
bochecha e o ódio crescia, ficando maior do que já era. Maior do que foi. E ela
de repente percebeu que não poderia fazer nada... naquele momento.
Carlos
continuou seus movimentos de vai e vem enquanto a menina se postara imóvel. Sem
gritar, sem se debater. Apenas chorava e gemia de dor. O cheiro de sexo
preenchia o ambiente. E assim permaneceu por mais algum tempo. Bruna chorava e
encarava o rosto do homem. Um rosto que ela jamais esqueceria. Um rosto que
demonstrava prazer. Enquanto ela chorava e sentia nojo, ele sentia prazer.
Quando gozou, Carlos tirou-se de dentro dela e foi para o banheiro como se nada
tivesse acontecido. Deixou a garota ali, com gozo e sangue escorrendo pelo
lençol de sua cama.
Bruna
sentia-se imunda. Assim que o ouviu sair do banheiro, livrou-se da amordaça e
se trancou lá dentro. Permaneceu por horas. Se esfregava e chorava de baixo da
água quente; saiu do banheiro e se trancou no seu quarto. Deitou no tapete e se
enroscou com a toalha cobrindo seu corpo. Chorou a noite toda.
Nos
dias seguintes, Carlos tratava a menina como se nada tivesse acontecido. E de
fato, pra ele, nada tinha ocorrido. Ele não se lembrava de absolutamente nada
daquela noite. Mas Bruna lembrava. E ela não conseguiria esquecer. Do rosto que
denunciava o prazer. Dos olhos negros que fitaram o seu por alguns segundos. Olhos
que a perseguiram em sonhos e durante todas as noites...
Quando
completou uma semana, Bruna tinha um plano. Carlos adormeceu no sofá, com a TV
ligada. Era a hora perfeita. Foi em direção ao seu quarto, pegou a fronha suja
que estava jogada no canto desde o fatídico dia e voltou à sala, pondo-se de pé
frente ao porco sonolento do qual sentia repulsa. Admirou a cena por um segundo
e sorriu. Finalmente ela se veria livre dele.
Aproveitou-se
da posição dele e passou a fronha pela sua boca aberta, amarrando-a firme,
impedindo-o de fechar a boca completamente. Carlos remexeu-se, mas não acordou.
Bruna foi até a garagem, pegou o pedaço de corda que ela preparara no dia
anterior e, voltando à sala, pegou a garrafa de refrigerante de cima do balcão.
Amarrou
as mãos de Carlos, unindo-as uma em cima da outra. Depois de dar um último nó,
abriu a garrafa de refrigerante e despejou em cima de Carlos. O homem despertou
confuso e alerta. Percebera seu estado de impotência e começou a gritar. Bruna
não ligava pros seus gritos. Quando Carlos tentou se levantar do sofá, Bruna
empurrou-o de volta. Carlos olhava sem entender para suas mãos atadas e depois
para Bruna, que não desviava o olhar. Ela queria que ele reparasse seus olhos.
Que essa fosse a última coisa da qual ele lembraria depois daquela noite.
Bruna
remexeu no bolso traseiro da calça e tirou uma caixa de fósforos de dentro.
Abriu a caixa e riscou um palito. Acontece que a garrafa não era de
refrigerante...
Quando
o fósforo caiu no colo de Carlos, Bruna se afastou. O fogo abraçou o corpo do
homem e os olhos da menina perderam o foco na mancha alaranjada que era seu
padrasto em chamas no meio da sala. Carlos se debatia e gritava, mas Bruna não
se importava com isso. Deu uma última olhada para o homem que agonizava em
chamas e desespero, saiu da casa e foi em direção ao carro parado na calçada.
Olhou uma ultima vez para a casa. Percebeu que o fogo havia se alastrado e
agora consumia toda a sala. O pesadelo tinha acabado. Um sorriso apareceu em
seu rosto. E, enquanto dava partida no carro, sentia-se limpa, finalmente."
- Jackson Jacques
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