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5 de junho de 2013

O Preço da Liberdade

"           Depois da morte de sua mãe, Bruna se viu perdida no mundo. Com apenas 9 anos e sem nenhum parente de sangue para ampará-la, se viu desolada e totalmente sem chão. A partir daquele dia ela seria obrigada a morar sozinha com Carlos, a obedecer ele, a ser dependente do homem que lhe causava medo e nojo.
            Mesmo com tão pouca idade, Bruna sempre soube julgar as pessoas pelos seus atos. E Carlos merecia tal julgamento. Chegava do trabalho totalmente bêbado, torrava o dinheiro que muitas vezes era do aluguel em bebida, forçava sexo com a mãe de Bruna – com ela por perto, quase sempre – e, o que mais fazia chorar de raiva, Carlos espancava sua mãe. Sua querida e delicada mãe. A mão dele descia e cortava o ar, batendo com força no rosto da mulher, virando-a e fazendo-a cair sobre os joelhos.
            
            Era com ele que Bruna fora obrigada a morar. Um homem que ela nunca respeitou ou sequer tentou obedecer durante os anos; um homem que lhe dava nojo; um homem que em nada fazia jus à memória de sua mãe; um homem que não mereceu a vida que teve... até agora.
            
           Conforme crescia, Bruna objetivou que sua vida seria fazer a vida de Carlos um inferno. Sempre com a desculpa de estar frágil e passando por momentos difíceis e depois amparada pela rebeldia comum da adolescência, a verdade era que Bruna estava mais do que consciente de tudo o que fazia. Da vez em que batera e deixara o carro dele explodir quando tinha 16 anos, da primeira festa com direito a furtos e objetos quebrados aos 15 e também durante todos os três anos em que passara roubando o dinheiro da carteira do padrasto, fazendo-o crer que tinha gastado o dinheiro com bebida.
            Mas com uma coisa Bruna não contava...
           
            Ela tinha completado dezoito anos há menos de dois meses. Era uma noite comum, como as outras. Ela tinha ficado deitada no sofá, de pernas pro ar, vendo televisão durante o dia todo. A louça estava na pia desde sabe lá quando. O cheiro de mofo vindo das quentinhas de papelão em cima da pia chegava à sala, mas não a incomodavam mais. Depois de tomar um banho quente, Bruna se vestiu e foi dormir.

Mais tarde naquele mesmo dia, Carlos chegara bêbado em casa e ficara enraivecido ao encontrar a casa no estado deplorável de arrumação. Dirigiu-se aos tropeços para o quarto de Bruna, pronto para lhe passar um sermão. Parou de imediato na porta. A verdade era que Carlos sempre observava sua enteada e percebera como ela havia crescido. Por diversas noites se pegou imaginando seu corpo curvilíneo e virgem, mas afastava tais pensamentos insanos. Mas Bruna nunca aprendera a fechar a porta do quarto e, dessa vez, Carlos não estava em suas faculdades mentais.
            A mão do homem deslizou pela coxa desnuda da menina, arrepiando-a os pelos da perna e do braço. Ele deitou-se sobre a menina, que acordara com o peso repentino em cima de si. Antes que pudesse gritar, no entanto, o homem a silenciou pressionando a mão de encontro à sua boca.
            
           Com a outra mão ele descera a calcinha dela e começara a dedilhar seu sexo, explorando um lugar que ninguém havia estado antes. Bruna lutava e se debatia, soltando gritos abafados pela mão firme do padrasto. Carlos segurou suas mãos logo depois de amarrar a fronha do travesseiro em volta da boca dela. Livrou-se da calça e arriou a cueca. Cuspiu na cabeça de seu membro que latejava de tesão e jogou seu corpo sobre a menina e empurrou-lhe o membro sexo à dentro. Para Bruna aquilo era um pesadelo. Para Carlos, um sonho.
           
            Bruna gritara. Um grito sofrido, abafado e choroso. As lágrimas escorriam pela sua bochecha e o ódio crescia, ficando maior do que já era. Maior do que foi. E ela de repente percebeu que não poderia fazer nada... naquele momento.
            Carlos continuou seus movimentos de vai e vem enquanto a menina se postara imóvel. Sem gritar, sem se debater. Apenas chorava e gemia de dor. O cheiro de sexo preenchia o ambiente. E assim permaneceu por mais algum tempo. Bruna chorava e encarava o rosto do homem. Um rosto que ela jamais esqueceria. Um rosto que demonstrava prazer. Enquanto ela chorava e sentia nojo, ele sentia prazer. Quando gozou, Carlos tirou-se de dentro dela e foi para o banheiro como se nada tivesse acontecido. Deixou a garota ali, com gozo e sangue escorrendo pelo lençol de sua cama.
            
             Bruna sentia-se imunda. Assim que o ouviu sair do banheiro, livrou-se da amordaça e se trancou lá dentro. Permaneceu por horas. Se esfregava e chorava de baixo da água quente; saiu do banheiro e se trancou no seu quarto. Deitou no tapete e se enroscou com a toalha cobrindo seu corpo. Chorou a noite toda.
            Nos dias seguintes, Carlos tratava a menina como se nada tivesse acontecido. E de fato, pra ele, nada tinha ocorrido. Ele não se lembrava de absolutamente nada daquela noite. Mas Bruna lembrava. E ela não conseguiria esquecer. Do rosto que denunciava o prazer. Dos olhos negros que fitaram o seu por alguns segundos. Olhos que a perseguiram em sonhos e durante todas as noites...
            
            Quando completou uma semana, Bruna tinha um plano. Carlos adormeceu no sofá, com a TV ligada. Era a hora perfeita. Foi em direção ao seu quarto, pegou a fronha suja que estava jogada no canto desde o fatídico dia e voltou à sala, pondo-se de pé frente ao porco sonolento do qual sentia repulsa. Admirou a cena por um segundo e sorriu. Finalmente ela se veria livre dele.
            
            Aproveitou-se da posição dele e passou a fronha pela sua boca aberta, amarrando-a firme, impedindo-o de fechar a boca completamente. Carlos remexeu-se, mas não acordou. Bruna foi até a garagem, pegou o pedaço de corda que ela preparara no dia anterior e, voltando à sala, pegou a garrafa de refrigerante de cima do balcão.
            Amarrou as mãos de Carlos, unindo-as uma em cima da outra. Depois de dar um último nó, abriu a garrafa de refrigerante e despejou em cima de Carlos. O homem despertou confuso e alerta. Percebera seu estado de impotência e começou a gritar. Bruna não ligava pros seus gritos. Quando Carlos tentou se levantar do sofá, Bruna empurrou-o de volta. Carlos olhava sem entender para suas mãos atadas e depois para Bruna, que não desviava o olhar. Ela queria que ele reparasse seus olhos. Que essa fosse a última coisa da qual ele lembraria depois daquela noite.
            Bruna remexeu no bolso traseiro da calça e tirou uma caixa de fósforos de dentro. Abriu a caixa e riscou um palito. Acontece que a garrafa não era de refrigerante...

            
            Quando o fósforo caiu no colo de Carlos, Bruna se afastou. O fogo abraçou o corpo do homem e os olhos da menina perderam o foco na mancha alaranjada que era seu padrasto em chamas no meio da sala. Carlos se debatia e gritava, mas Bruna não se importava com isso. Deu uma última olhada para o homem que agonizava em chamas e desespero, saiu da casa e foi em direção ao carro parado na calçada. Olhou uma ultima vez para a casa. Percebeu que o fogo havia se alastrado e agora consumia toda a sala. O pesadelo tinha acabado. Um sorriso apareceu em seu rosto. E, enquanto dava partida no carro, sentia-se limpa, finalmente."

- Jackson Jacques

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