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25 de novembro de 2010

Sonho

Certa vez eu sonhei.
Sonhei que estava em um carro.
Pelo menos achava que era um.
Me sentia num carro.

Nada via. Só conseguia ouvir.
Alguém apagou a luz?
Sonho estranho, confuso.
Deve ser porque eu estou confuso.
Será?
Estava a 50 km/h.
Gostava do vento que beijava meu rosto.
Ouvi risadas.
Decidi olhar para trás.
Sorri quando vi que não estava sozinho.
Acelerei. Estava a 60 km/h.
Espero que tenha GPS, nada vejo.
Alguém ligou o rádio.
Acelerei. Estava a 70 km/h.
Me senti triste, fraco.
Olhei no retrovisor.
Alguém desceu do carro.
Acelerei. Estava a 90 km/h.As coisas começaram a ganhar forma.
O rádio foi desligado.
Ouvi meu coração batendo, pulsando forte.

Acelerei. Estava a 100 km/h.Cada vez mais a luz ia se acendendo.
Acho que passei por uma blitz.
Olhei no retrovisor.
Ela dormia.
Passei por três sinais vermelhos.
Acelerei. Estava a 110 km/h.
Já podia ver o brilho do Sol.
Ou aquilo lá na frente era um farol?
Acelerei. Estava a 120 km/h.

Ela acordou.
Vi seus movimentos pelo retrovisor.
Ela sussurrou alguma coisa como "Eu te amo"
E se foi.
Acelerei. Estava a 130 km/h.
Senti a lágrima escorrendo.
As figuras começavam a se distorcer.
Queria parar.
Poderia bater. Não ligava mais.
Larguei o volante.
Acelerei. Estava a 140 km/h.
Senti uma mão no meu ombro.
Decidi ver quem era.
Ele voltou. Veio me ver, me consolar.
Peguei no volante.
Acelerei. Estava a 150 km/h.
Sentia falta dela.
De repente, o carro estava cheio.
Haviam mais de 10 pessoas ali.
Todas sorriam.
Porque eu não conseguia fazer o mesmo?
Acelerei. Estava a 160 km/h.
Consegui sorrir.
A paisagem estava ficando nítida, mas embaçada pela velocidade.
Era bonito ali. Gostava da paz.
Acelerei. Estava a 170 km/h.
Alguém ligou o rádio de novo.
Gostei da música.
Mas preferia o barulho das árvores, as risadas.
Alguém me beijou na bochecha.
Gostei de sentir aquele carinho.
Acelerei. Já estava a 190 km/h.
Estava com saudades da minha vida.
Me sentia cansado.
Já não reparava em nada.
Meus pensamentos voavam.
Acelerei. Cheguei aos 200 km/h.
Já não me sentia feliz, muito menos triste.
Tinha mais gente no carro.
Acabei de ver uma curva, à frente.
O volante não responde.
Tentei frear.
Cortaram o cabo de freio.
Bati.
Senti o gosto do sangue. Gostei.
Olhei pra ver os outros.
Estavam todos caídos em posições estranhas, ensanguentados.
Já não podia ver.
Meus olhos se fecharam.
Ouvi barulhos.
Uma sirene, talvez.
Era a ambulância? Ou o bombeiro?
Acordei.
Estava assustado, apavorado.
Desliguei o despertador.
Mais um dia começara.

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